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O comércio exterior e a ilusão “ocidental”

Cresce, nos jornais, a defesa de um “realinhamento” do Brasil com o “Ocidente”, como se isso, além de nos colocar sob a tutela dos EUA e da Europa do ponto de vista econômico e político, fosse nos resolver, em um passe de mágica, todos os problemas, incluindo o da competitividade industrial.

Chegamos a um ponto tal que um dirigente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) declarou que estamos perdendo espaço na exportação de manufaturados para os EUA por “questões ideológicas” — como se vivêssemos em uma ditadura na qual os empresários fossem proibidos de exportar para determinados mercados sob pena de irem para uma prisão, do tipo de Abu Ghraib ou Guantánamo.

Não podemos esquecer que o real foi uma das moedas que mais se valorizaram, no mundo, nos últimos 12 anos, e que seu valor só agora está sendo corrigido, pelo próprio mercado, para um patamar mais razoável.

O que atrapalhou as vendas de sapatos, e de outros produtos manufaturados, para os EUA, fazendo com que elas caíssem em cerca de 12% — segundo o dirigente da AEB — no contexto das exportações totais, e se concentrem hoje em aviões e motores geradores, foi a questão cambial. E a ausência — ao contrário do que ocorre em países como a China — de uma política industrial digna desse nome.

Estamos vendendo aviões e motores, talvez porque a Embraer e a Weg sejam empresas majoritariamente nacionais altamente competitivas, e isso nada tem a ver com ideologia.

Se tivéssemos, como a China, a Coreia e o Japão mais Wegs e mais Embraers, em outros segmentos da indústria, talvez estivéssemos vendendo mais aos norte-americanos — e ao mundo inteiro — do que estamos vendendo agora. E ainda assim, seria preciso enfrentar o histórico protecionismo dos EUA, como já o fizemos no passado, em foros como a Organização Mundial do Comércio.

O Brasil exporta manufaturados para a Venezuela e a Argentina — e ai de nós se não fossem esses mercados — porque temos acesso a esses países, apesar da oposição dos norte-americanos.

interessante saber o que acham do Mercosul, da Venezuela e da Argentina, os exportadores que nos deram mais de 6 bilhões de dólares em superavit na balança comercial com esses países no ano passado, ou as construtoras brasileiras que têm uma carteira de bilhões de reais em obras nessas nações. 

Os EUA gostariam de estar vendendo na América do Sul o que vendemos, e fazendo o que nós fazemos, e se não o fazem, é porque tivemos a sabedoria de resistir à ideia da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), e de fundar o Mercosul, apesar da resistência de países como o México.

Depois de tantos anos como “sócios” dos EUA no Nafta, que resultados o México tem a apresentar? O que há a invejar nos mexicanos? Um crescimento pífio, de menos da metade do nosso, em 2013? A informação de que a pobreza naquele país — segundo o CEPR (Centro para Pesquisa e Política Econômica), com sede em Washington — chegou a mais de 52% da população em 2012? Ou de que a renda per capita cresceu apenas 18,6% nos últimos 20 anos?

O fato de que, segundo a Moody´s, o PIB mexicano subiu 2.1% nos últimos 13 anos, ficando em décimo oitavo lugar entre os países latino-americanos — enquanto nós, com mais que o dobro da economia deles, ocupamos o posto décimo terceiro? Ou de que a queda, segundo a OCDE, da renda das famílias do México, foi de 5% ao ano desde 2009?

O Inegi (Instituto Nacional de Estatística e Geografia), o IBGE local, informa que a renda real das famílias mexicanas — sem levar em consideração as remessas de parentes que vivem em outros países — caiu 14%, mesmo percentual de perda que houve em seu poder aquisitivo, e deve diminuir ainda mais em 2014, com uma redução esperada, para o segmento de classe média, de 8% este ano.

No site oficial do Banco Mundial consta a informação de que tivemos, em 2012, um PIB nominal de 2,252 trilhões de dólares, contra 1.178 do México, com uma renda per capita de 11.340 contra 9.749 dólares.

Não estamos melhor apenas no crescimento da renda da maioria da população nos últimos dez anos, ou no dobro das reservas internacionais acumuladas. Os ganhos dos menos favorecidos aumentaram por aqui nos últimos anos. E o mesmo ocorreu com as grandes fortunas, que — em uma situação ideal — poderiam dar, se quisessem, contribuição muitíssimo maior da que estão dando para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Segundo o último levantamento da Forbes, o Brasil conta com 65 bilionários em dólar, contra apenas 16 do México, embora apenas um deles, Carlos Slim, detenha a segunda maior fortuna do mundo.

Finalmente — para quem acha que o capitalismo de Estado é o oposto da prosperidade pessoal, uma informação: os bilionários chineses — país mais “intervencionista” do planeta, no qual quase 100% das empresas contam com participação estatal — já são 152, quase três vezes mais que os nossos, e, com 37 novos nomes, apenas no último ano.

 

Mauro Santayana

Jornal do Brasil


  

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