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Brasil: o desafio de se inserir nas cadeias globais de produção

 

Estudo da Confederação Nacional da Indústria de Transformação (CNI) e da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) constatou a perda de espaço do Brasil nas cadeias globais de produção. De acordo com o estudo, as receitas obtidas com as exportações da indústria de transformação ficaram abaixo das importações de insumos, peças e componentes pela primeira vez no ano passado.

A tendência de expansão das importações de insumos acima da trajetória das exportações da indústria da transformação já vinha se delineando desde o início da década passada e tornou-se inquestionável no ano passado. As exportações líquidas do setor de transformação, isto é, a relação entre exportação e importação de insumos ficou negativa em 0,1%. (Valor, 19/3) De 21 segmentos do setor analisados, 11 exportaram menos do que compraram em insumos.

O saldo da balança comercial da indústria como um todo já mostrava um resultado ligeiramente negativo desde a crise internacional, que ganhou vulto nesta década e atingiu US$ 54,4 bilhões no ano passado. O problema é mais acentuado nos produtos de tecnologia de média a alta, segmento em que a balança comercial ficou negativa em US$ 94 bilhões.

O problema tem várias origens e não apenas a cotação do dólar, tanto que não foi minorado no ano passado, quando o câmbio ficou mais favorável. Um deles é a política das multinacionais, que dominam as cadeias globais de produção, de concentrarem-se no grande mercado doméstico quando se instalam no Brasil e não se preocuparem em exportar. O exemplo da indústria automobilística ilustra bem essa posição.

A falta de competitividade, especialmente nos produtos de maior tecnologia, é outra questão. Normalmente os países inovadores e competitivos têm espaço garantido nas cadeias globais de produção. Os custos altos de produção local também levam ao aumento natural das importações.

Há ainda as dificuldades de infraestrutura. Levantamento do Banco Mundial divulgado na semana passada mostrou que o Brasil despencou no ranking mundial de logística, que mede a eficiência do sistema de transportes, do 45º lugar para o 65º; e no ranking de infraestrutura, do 45º lugar para o 54º. É a pior colocação do país desde que o ranking foi lançado em 2007 e ajuda a explicar a baixa participação nas cadeias globais de produção.

O estudo do Banco Mundial mede a percepção dos empresários em relação à disponibilidade de facilidades de infraestrutura e logística, incluindo eficiência na liberação de mercadorias nas alfândegas, rastreamento de carga, cumprimento de prazos e disponibilidade de frete. O custo de um contêiner de 12 metros no Brasil é quase o dobro do cobrado na China e na Índia, mas inferior ao praticado no México. Já o tempo entre a entrega de uma declaração na alfândega brasileira e o desembaraço da mercadoria após a inspeção é de oito dias, acima dos três na China, dois na Índia e dois no México.

O resultado contrasta claramente com o otimismo oficial. A realidade nessa área é que há muitos planos, mas pouca prática até agora. Pesquisa feita pelo Instituto de Logística e SupplyChain (Ilos) mostra que o atraso médio nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é de 48 meses; e o descompasso entre o custo orçado e os gastos efetivos chega a 85% na média. Os atrasos, principalmente, mas também os orçamentos estourados, contribuem para alimentar o sentimento de precariedade da infraestrutura, que contribui para deixar o país de fora das cadeias globais de produção.

Participar das cadeias globais de produção passa também pela política de comércio exterior. Nesse ponto, o distanciamento do Brasil dos acordos preferenciais de comércio não tem ajudado. Os acordos preferenciais de comércio contribuem para a expansão das cadeias globais de produção na medida que eliminam tarifas, harmonizam normas e padrões técnicos de diferentes países e vão além dos acertos no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), incluindo regras de investimento e liberação de serviços.

Inserir o Brasil nas cadeias globais de produção requer, portanto, uma atuação em várias frentes, tarefa que deveria merecer prioridade dado o visível enfraquecimento das exportações brasileiras, especialmente de manufaturados.

Opinião/Valor


  

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